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Thainá Carvalho

Olharam-se com abandono, como se fossem tudo o que restava depois dos dias. Minha filha, você foi uma decepção. E você, pai, destruiu minha vida. Gritaram os olhos. Se sua mãe estivesse viva, você não teria virado vagabunda. Se você não tivesse matado minha mãe de desgosto, ela ainda estaria viva. Acusaram os olhos, secos de lágrimas.

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Thainá Carvalho

Sorria em dias bonitos como aquele, quando sentia na pele o tecido aquecido do hábito sob o sol. Mas, naquela tarde, ela chorava e vagava sem saber para onde ir. Seu filho a procurou. Os pais adotivos haviam quebrado a promessa de anos atrás e dito a verdade: ela não quisera o bebê. Adulto,ele foi até o convento para dizer que a perdoava, mas ela sabia que era tarde. Era como se agora finalmente Deus ficasse sabendo, e ela estivesse suja demais para seguir com a vocação que tinha desde menina. O rapaz era a lembrança do deslize imundo, da vergonha que a fez sair correndo aterrorizada do convento. O portão ficou aberto, como braços vazios, mas ela nunca se perdoou para voltar.

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Thainá Carvalho

No século XV, os habitantes de uma cidadezinha no interior da França descobriram que as águas do rio local lavavam os anos. A maioria das pessoas queria rejuvenescer apenas algumas décadas, já outras realizavam o sonho de retornar à infância. Bastava entrar no rio ansiando pelos tempos desejados e a mágica se realizava. Da janela de casa, Constance olhava as águas e pensava em como seria o futuro. Demorou dias até criar coragem para jogar-se no rio sonhando com tempos modernos. Acordou em 1789, em Paris, pouco antes de morrer pisoteada por revolucionários na Bastilha. Mal sabia Constance que o futuro não lhe pertencia.

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